Entre fissuras e feituras
- Gabriel Gama
- 8 de jun.
- 2 min de leitura
Aos amores perdidos, a psicanalista Maria Homem nos lembra: “Que haja a sorte do encontro, a coragem de sustentar o desejo e a graça de não definhar com a perda”.
Diante daquilo que nos faz fissura no amor, só nos cabe a tarefa de preencher-se em ficções, discursar no onírico de nosso simbólico, dançar na trama do vazio.
Viveremos sempre novas tragédias existenciais na forma de rachaduras inesperadas, de travessias interrompidas, de desejos solapados, mas não percamos a força pulsional de continuar, de nos manter vivos.
A morte não morre, mas vale a pena pensar que a vida também continua.
Vida, Morte, Vida. Vida, Morte, Vida.
Em matéria de amor, é onde a vitória da derrota é a mais digna de todas, como escreve Maria Homem, pois é quando nos dispomos, na nossa mais autêntica singularidade, nos vulnerabilizar, nos desvelar para um outro totalmente desconhecido. E isso é totalmente fascinante, corajoso e desesperador.
O nascimento de algo implica em uma despedida do que não é mais. Na dimensão da ausência, a dor de uma perda não é só lidar com a perda em si, mas a dor de saber que perdemos depois de um grande recebimento, depois de amar. E isso nos dói profundamente, pois é a dor narcísica invariavelmente ao encontro com o real, com a desidealização de um projeto.
Diante daquilo que nos faz fissura e vamos ao chão, só nos cabe a tarefa de preencher, urgentemente ou não, os vazios pelas ficções escrevendo, tecendo, narrando, criando.... No si mesmo.
-- Reflexões motivadas pelo potente encontro no “Letra em Cena”, entre a psicanalista Maria Homem e o escritor Jacques Fux, com leitura de textos dos dois pensadores pelo ator Odilon Esteves, no Centro Cultural Unimed BH, em setembro de 2023.




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