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Não se pode faltar a falta

  • Foto do escritor: Gabriel Gama
    Gabriel Gama
  • 8 de jun.
  • 2 min de leitura

Não se pode mais faltar a falta.


Na ditadura dos excessos em que vivemos, onde somos “condenados” pela cultura produtivista do capital a um certo “mal-estar de felicidade”, a uma urgência em estarmos bem, temos demonizado cada vez mais a dor, a tristeza, a frustração, a perda.


Assim, temos nos tornado mestres em tamponar vazios, silêncios, angústias, nas formas mais criativas possíveis.


Na contemporaneidade o que não falta é a produção em massa de distratores sociais para aplacar o nosso sofrimento, desde o indiscriminado uso legal dos diazepams e fluoxetinas, aos cigarros, álcoois, redes sociais, drogas ilícitas e demais vícios compulsivos.


Diante disso, me pergunto: como ser subjetivo num mundo do imperativo do gozo e do prazer?


Como sermos autenticamente vulneráveis num tempo que nos lança o tempo todo a não sermos frágeis? Como estarmos bordeando os nossos vazios? Criando corpo neles?


Nesta grande crise global de sentires, temos vivido um grande não saber de si mesmo. Em meio a um culto ao individualismo, ao hedonismo, ao imediatismo, o que geramos uma intolerância cada vez maior diante da alteridade do outro.


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Não é à toa que vivemos a era da descartabilidade das relações amorosas. Como vamos suportar a vulnerabilidade do outro se sequer suportamos as nossas próprias sombras? Amar requer coragem.


Tateando caminhos para lidar com isso em minha vida, sempre estou às voltas da filosofia nietzscheana, de sua força natural em dizer sim à vida, a que ele chama de Amor Fati, um dizer sim à vida só que na contramão do que a cultura nos intenta.


Não vamos ignorar a dor, suprimir a falta, mas é um dizer sim à vida andando junto com os vazios, dando colo a eles, conservando um estado de ser corajoso apesar de tudo.


É isso que precisamos: viver apesar de tudo.


Como Caio Fernando Abreu escreve em sua linda “Carta ao Zézim”: “Você me pergunta, Zézim, o que eu faço? Não faça. Não faça nada fazendo tudo. Acordando todo dia, passando o café, arrumando a cama, dando uma volta na quadra, ouvindo um som, alimentando a pobre, você está ansioso e isso é muito pouco religioso”.

 
 
 

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