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Caderno de Travessias
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Não se pode faltar a falta
Não se pode mais faltar a falta. Na ditadura dos excessos em que vivemos, onde somos “condenados” pela cultura produtivista do capital a um certo “mal-estar de felicidade”, a uma urgência em estarmos bem, temos demonizado cada vez mais a dor, a tristeza, a frustração, a perda. Assim, temos nos tornado mestres em tamponar vazios, silêncios, angústias, nas formas mais criativas possíveis...
Gabriel Gama


O valor da escuta
Escutar é fazer-se em presença na alteridade do outro. E assumir essa posição com inteireza é como um ato revolucionário de sobrepor uma forma de tempo produtivista, utilitarista que estamos constantemente seduzidos a viver. Escutar é nos vestir para encontrar uma outra forma de tempo: o tempo do afeto. E este está para além dos ponteiros que medem os segundos, os minutos, as horas. Escutar no tempo do afeto envolve a qualidade humana de zelar. Como escreve Antonio Candido...
Gabriel Gama


Um dizer sim à vida
“Quem tem por que viver pode suportar quase qualquer como”.
Esta perspectiva existencialista pinçada por Viktor Frankl na obra de Nietzsche, em “Crepúsculo dos ídolos”, é de uma adaptação bem gentil para os nossos termos atuais: o uso do “quase”.
Esta palavra adjunto é a que mais me chama a atenção nesta vontade de potência do aforismo nietzscheano trazido em outras palavras por Frankl, em sua aclamada obra “Em busca de sentido”...
Gabriel Gama
Forró: criando vida
O forró chegou como uma bruta flor em meu caminho. Aos poucos, foi me apresentando o singelo dos encontros, a gentileza possível por dentro dos corpos, a permissão de tocar e ser tocado. Forró é escrever presenças entre corpos. É um modo de fazer revolução pelo amor. É encontro consigo, mas também é a possibilidade de ser um pouquinho de tantos outros. É atravessar os silêncios vividos entre tempos e contratempos e as abundâncias vividas entre melodias e melodias...
Gabriel Gama
Entre fissuras e feituras
Aos amores perdidos, a psicanalista Maria Homem nos lembra: “Que haja a sorte do encontro, a coragem de sustentar o desejo e a graça de não definhar com a perda”. Diante daquilo que nos faz fissura no amor, só nos cabe a tarefa de preencher-se em ficções, discursar no onírico de nosso simbólico, dançar na trama do vazio. Viveremos sempre novas tragédias existenciais na forma de rachaduras inesperadas, de travessias interrompidas, de desejos solapados, mas não percamos...
Gabriel Gama
O ato de ser psicólogo
O escritor angolano Valter Hugo Mãe, em seu belo romance, “O filho de mil homens”, descreve o amor como “uma predisposição natural para se favorecer alguém”, uma certa naturalidade de “ser, sem sequer se pensar, por outra pessoa”. Tal como o amor de Mãe, o psicólogo é um estar com o outro. Antes de todas as técnicas apreendidas, das leituras adquiridas e das vivências empreendidas, o psicólogo é um ser cuidador. É aquele que se debruça...
Gabriel Gama


Entre rios e baldos, travessia
Cruzar os cantos do sertão, compostos de areais, chapadões, brejos e quilombos, é travessear nos vereados desassossegos da alma. Sua sapiência de chão e seus silêncios carregados de mistério dizem muito mais sobre nós do que podemos imaginar. No sertão, a gente se descobre pelos olhares baixos ao nos endivinar com a sua vastidão e suas veredas. Lá, o ensinamento serpenteia-se em rios e baldos, onde elaborar dores é como arar o grosso das terras...
Gabriel Gama


Sabedoria de caule
A natureza comporta um certo grau de paciência sobre as coisas. Serenamente vê, sente e age ao sabor das circunstâncias. Chove no tempo de chover, venta no tempo de ventar. Está sempre sob um olhar esperado à existência. Vive à base do que chamamos de respeito. Respeito por ela mesma, por suas tantas manifestações da experiência de ser no mundo. Umas naturezas mais áridas, outras um pouco mais abundantes, umas mais rigorosas...
Gabriel Gama


Por ser amor
Ela sabe regar um sentimento. Sente o amor como uma atitude. Sua boca sempre enfeitada de muitas sinceridades, todas brotadas por dentro, em ramos de delicadezas. Em tempos tão sombrios e tomados pelo caos, assume o ofício de curadora de belezas. Ela que tem tantas histórias das coisas acontecidas e a acontecerem...
Nunca vi nada igual, uma inspiração completa. Coisa difícil, tarefa por demais sub
Gabriel Gama


Tecitura
Fiar o presente à força das próprias dores. Que nos tecidos invisíveis de nossos tempos, possamos bordar o que nos cabe sentir agora. Permitir-se decantar o passado para costurar festejos em desconhecidos. Quando não for possível (ainda), fazer-se em espera. Lembrete: fazer-se em espera. A espera debulha os segundos e debulhar os segundos é tornar possível a escuta de si mesmo...
Gabriel Gama
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