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Caderno de Travessias
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Salvador
Na baía da Bahia. Escorrido de sol, sal e areia. Em sua borda, tomei-me de um insustentável desejo de parar o tempo. Ainda que por umas horas, foi como se vivesse em mar. Em completa disritmia. Mar é viver o acriançado no despensado da vida. Aos poucos, naquele princípio de tarde de sábado, assomei em escalas de sentimento. Costumo insistir na ideia de que a felicidade compõe-se de episódicos atos de atenção e presença...
Gabriel Gama


Ser tão mar
Se um dia tudo parecer maior e seu corpo à deriva fugir, lembre-se do horizonte, das ondas, das pedras, do outrora, do aqui, do porvir. A cada segundo, morre-se e nasce-se. Nunca se é o mesmo de instantes atrás e é assim que a mudança se tece. Nas árvores que trocam folhas, nos mares que renovam ondas, nas areias que movem desertos, nas chamas que aquecem corpos. Veja só o mar. Um acriançado no despensado da vida. Completa disritmia. Sendo nunca sendo o mesmo...
Gabriel Gama


Vidas molhadas
A quem pense que, no sertão, a vida compõe-se de desesperanças. De vidas secas, de histórias imprecisas e sofridas. Mas, no sertão, o que se vê são histórias crescidas e muito maduras. De vidas nascidas do árido e muito inundadas. Uma gente que se entrega de corpo e de alma aos brejos e às veredas. O sertão todo cabem-lhe adentro. Terra de guerreiras e guerreiros transbordados, que desafiam os desafios, transformam dor em doçura e guardam em si a faculdade da resiliência...
Gabriel Gama


Buritis e sonhos
É tudo muito verdadeiro no sertão. Em seus ventos, grilos e estrelas. Lá, as coisas acontecem como numa espécie de endivinamento. Estão sempre dispostas a serem exatas, riquezas dentro do previsível. Quando chove, chove. Quando seca, seca. Não há tempo para muitas complicações. O sertão ensina por sinceridade. Vê-se no comportamento do dia. Nas horas permanentes de sol, o sertão molha-se com suas próprias histórias fecundadas dos brejos e das veredas...
Gabriel Gama


O vazio é inundado
Acordei sobressaltado às cinco da manhã de hoje destinado a escrever. Há dias que sinto-me percorrido de um inadiável compromisso com as palavras. É na palavra que lembro das coisas não terminadas nem escapadas. É onde carrego minhas ideias de sentimento. É onde mora a minha vontade de continuar. E é o que venho por meio deste súbito gesto nascido em uma manhã anil de terça. Partilhar com vocês a urgência de continuarmos. Nos é preciso guardar a lembrança desta vontade incess
Gabriel Gama


Os deslimites do amor
Um dia pensara no amor. Nesse acontecimento dentro da gente. E se o amor fosse como variação sintática? E se o amor mudasse por uma simples aplicação ou retirada de uma palavra? Um eu te amo para um eu não te amo, como se pudesse deixar de amar alguém assim, como se amar fosse um ato de substituições lexicais. Se o amor funcionasse por sintaxe, talvez fosse menos difícil amar...
Seria como viver numa espécie de apagamento de ânimos e pudéssemos sempre retirar as circuns
Gabriel Gama


O amor nos tempos do excesso
Vivemos num fetiche de relações. Afogados numa vontade irrefreável de fugir a nós mesmos. Somos seres hiper hipersolitários e hiperconectados. Vestidos de máscaras, criamos os nossos teatros gregos. Reféns da ditadura da felicidade, de um gozo pelas aparências, reduzidos a representações, a títulos e a estados mentais. Sob definições, por definições, em definições. O outro? O outro a serviço de nossas angústias, de nossos vazios...
Gabriel Gama


Recriançar
Nos adultecemos. Nossas crianças feridas pela sociedade do superdesempenho, dos egos inflados, das mentes imediatistas, dos corações ansiosos. Em tempos tão frenéticos, renegamos as nossas singelezas, os nossos olhares distraídos para a vida. Miramos à frente demais em busca de preenchimentos e perdemos o essencial. O mínimo máximo das coisas. Perdemos a poesia de chão, as desatenções sinceras, as bondades naturais...
Gabriel Gama


Servidão pós-moderna
Hoje, mais do que nunca, o poder quer fazer-se viver. Ele está presente nas relações flutuantes da pós-modernidade, na servidão voluntária dos indivíduos, nos episódios aparentemente mais corriqueiros aos fatos mais grandiosos. Vivemos tempos de violência mental, onde o controle se dá pela sedução. Sedução a estilos de vida padronizados, impostos e tacitamente aceitos, consentido por todos. A violência não é somente pelo corpo, mas é neuronal...
Gabriel Gama


Por uma nova pedagogia
Em um tempo globalizado tão marcado pela profusão e aparente democratização das informações, ainda vivemos controlados por escolas que formam cidadãos não pensantes. Escolas que enxergam a educação como um mero repositório de informações e não como uma produtora de conhecimentos. Vivemos escravizados por um ensino pragmático e doutrinário, baseado em memorizações e verdades absolutas. Em uma sociedade pós-moderna que se diz democrática, mas não pensa pela via da diferença...
Gabriel Gama
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